quarta-feira, 2 de julho de 2025

Celebramos hoje

o Centenário de Nascimento da Irmã Maria

O tempo. Nele nascemos, vivemos e por ele passamos. Deus está acima do tempo, é eterno. E nos deu o tempo para vivenciarmos um aprendizado na busca da realização e santificação.

Há pessoas que se deixam conduzir pelo tempo, sem deixar legado aos que provisoriamente continuam no tempo. Outras fazem do tempo lindas páginas, onde escrevem belas histórias. É o caso da querida e saudosa Ir. Maria Mildner.

Nascida no município gaúcho de Estrela no dia 2 de julho de 1925, fez de sua vida brilhante luz, que iluminou e ilumina o caminho de tantos que com ela conviveram ou ouviram falar dela.

Deus a chamava à santidade, ao Paraíso, o celeste, e, atendendo ao convite, tornou-se religiosa consagrada da Ordem de Santa Úrsula. E, pelos desígnios divinos, viveu o caminho do serviço aos irmãos, em especial os mais necessitados e doentes em nosso Paraíso.

Louvamos a Deus pelos 100 anos de nascimento da querida religiosa, que, por meio de seu testemunho de vida e pela sua obra, nos convida a trilhar o mesmo caminho de santidade que ela trilhou.

Luiz Gonzaga da Rosa

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terça-feira, 1 de julho de 2025

Missa em ação de graças pelo centenário de nascimento

da irmã Maria Mildner

A missa das 15h, desta terça-feira, na matriz de São José, revestiu-se da celebração festiva em ação de graças pelos 100 anos do nascimento da irmã Maria Mildner, que tanto bem realizou em Paraisópolis e região durante mais de 40 anos.

Após a motivação inicial, feita pelo responsável por este blog, iniciou-se a procissão de entrada, abrilhantada pela música composta por dona Rosa Pinto Ribeiro, que juntamente com a equipe de canto, a interpretaram.

Participaram desse momento a primeira e a atual presidente da Escola da Irmã Maria, as senhoras Marilurdes Lima Santos e Elismara Nunes da Silveira Braga, que conduziram o banner do Jubileu, as irmãs Maria José Rosa e Cecília Vieira Célio, ursulinas do Colégio Santa Ângela, onde a Irmã Maria viveu em nossa cidade, que levaram ao altar um quadro de Santa Ângela

Seguiu-se a entrada de uma das últimas cuidadoras da religiosa e voluntária na escola, Luzia de Fátima Batista, que, juntamente com a ex-presidente da instituição, Sueli Silva Braga Barros, representando professores e alunos, levaram ao presbitério alguns dos trabalhos realizados na Escola da Ir. Maria. Também fizeram parte da entrada quatro anjinhos de Nossa Senhora e um soldadinho do Sagrado Coração de Jesus, que representaram as crianças assistidas pela religiosa.

Em seguida, a assembleia recebeu o presidente da Eucaristia e irmão da querida consagrada, o padre Rudy Antônio Mildner e o concelebrante, nosso vigário, padre Carlos César, com a equipe de celebração. Após a saudação inicial, foi lida uma bela mensagem do pároco, padre Leandro Carvalho, que não pode estar na celebração.

Na homilia, padre Rudy, dirigindo-se às centenas de fiéis participantes da missa e aos que acompanharam pelas redes sociais, entre as quais, o face da Pastoral da Saúde do Instituto Dante Pazzanese de São Paulo, refletiu sobre o evangelho do dia e sobre a vida da e obra da irmã Maria, convidando a todos para seguirem o exemplo de doação ao serviço de Deus e ao próximo que marcaram a vida religiosa.




Os participantes receberam no final este belo postal da irmã Maria, oferecido por um dos seus sobrinhos e sua esposa, residentes no Rio Grande do sul.

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domingo, 8 de dezembro de 2024

Celebremos este significativo evento:

Jubileu do Centenário de Nascimento da Ir. Maria

O tempo. Nele nascemos, vivemos e por ele passamos. Deus está acima do tempo, é eterno. E nos deu o tempo para vivenciarmos um aprendizado na busca da realização e santificação.

Há pessoas que se deixam conduzir pelo tempo, sem deixar legado aos que provisoriamente continuam no tempo. Outras fazem do tempo lindas páginas, onde escrevem belas histórias. É o caso da querida e saudosa Ir. Maria Mildner.

Nascida no município gaúcho de Estrela no dia 2 de julho de 1925, fez de sua vida brilhante luz, que iluminou e ilumina o caminho de tantos que com ela conviveram ou ouviram falar dela.

Deus a chamava à santidade, ao Paraíso, o celeste, e, atendendo ao convite, tornou-se religiosa consagrada da Ordem de Santa Úrsula. E, pelos desígnios divinos, viveu o caminho do serviço aos irmãos, em especial os mais necessitados e doentes em Paraisópolis, no Sul de Minas, carinhosamente conhecido como Paraíso.

No próximo ano, no dia 2 de julho, celebraremos o centenário de seu nascimento. Tempo de fazer memória de sua vida, não apenas como forma de homenagem tão justa e merecida, mas em primeiro lugar para, lembrando de seu legado, seguirmos na trilha do amor e da doação que soube viver e testemunhar.

Este dia 8, Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, abre o Jubileu com Missa na Matriz de São José. Iniciamos dessa forma esse belo ano de celebração com diversos eventos que brevemente serão divulgados.

Luiz Gonzaga da Rosa

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Folder editado em 2010:

Em 2010, padre Rudy Mildner, scj, e professor Luiz Rosa editaram um folheto com informações sobre a vida e a obra da religiosa ursulina. O conteúdo apresenta sinteticamente uma peque biografia da irmã Maria e depoimentos de diversas pessoas que com ela conviveram.

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Irmã Maria Mildner, mãe dos enfermos e dos pobres

Sua vida e obra

são testemunhos vivos de seu amor a Deus e ao próximo!

Estrela-RS, 2/7/1926 – Paraisópolis-MG, 28/3/2006

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Família e Vida Religiosa

Irmã Maria nasceu em uma família de origem alemã, profundamente cristã, no Bairro São Geraldo, zona rural do município de Estrela-RS, no dia 2 de julho de 1926. Era a segunda dos onze filhos de Rodolfo Mildner e Guilhermina Paulina Eckert Mildner.

No dia 1º de março de 1945, juntamente com a irmã mais nova, hoje Irmã Lúcia, Helma, foi admitida no Convento das Ursulinas de Santo Augusto-RS. Residiu algum tempo em Rezende-RJ. De 1958 a 1961, morou na cidade Rio de Janeiro. Em seguida voltou para seu estado, residindo em Caxias do Sul até 1965. Irmã Maria veio para o Colégio Santa Ângela de Paraisópolis-MG  no dia 2 de fevereiro de 1965.

O difícil começo

No início de 1966, à sombra de uma árvore, no então Instituto Monsenhor Dutra, hoje Casa da Criança, nascia sua obra. Ela orientava, evangelizava e ensinava os mais humildes. Começou com trabalhos manuais com palha de milho.

O Colégio cedeu-lhe, então, uma casinha, onde ela passou a dar cursos de corte e costura, bordado e trabalho em madeira. Como o número de alunos estava aumentando, precisava de mais espaço para as atividades. Conseguiu do Sr. Alfredo Machado de Carvalho o empréstimo de um galpão na esquina da Rua Duque de Caxias com a Travessa Alves de Lima. Findo o prazo de cessão do imóvel, acompanhada do jovem Luiz Gonzaga da Rosa, saiu de porta em porta pedindo ajuda para compra do barracão. Com a colaboração de muitas famílias, adquiriu o prédio.

Com recursos doados pela Misereor, entidade alemã, por pessoas generosas da comunidade, por seu irmão, padre Rudy Antônio Mildner, e a colaboração da Prefeitura, aos poucos, o prédio passou por reforma e ampliação e se tornou a sede definitiva da então Escola Doméstica Maria Mãe da Igreja, lugar da partilha e do encontro de todos que procuravam pela querida religiosa: ricos, remediados e, principalmente, os pobres, e chegou à estrutura atual.

Reconhecimento e Partida

Irmã Maria fez de sua vida permanente apostolado. Viveu entre nós quarenta e um anos, sempre fazendo o bem, assumindo o ideal do verdadeiro serviço cristão em total disponibilidade ao povo e, de modo especial, aos mais pobres, doentes e excluídos. Era, por isso, estimada por todos que a conheciam. No dia 25 de janeiro de 1981, recebeu da Câmara Municipal o título de Cidadã Paraisopolense pelos serviços prestados ao desenvolvimento de nossa cidade.

Faleceu no dia 28 de março de 2006, causando muita comoção na cidade. Centenas de pessoas participaram do velório e da missa presidida por seu irmão, Padre Rudy. Lágrimas sentidas e saudosas rolavam no rosto de crianças, jovens e adultos, que sempre amaram a Irmã Maria como mestra e mãe.

Irmã Maria voltou aos braços do Pai, mas seu testemunho de doação permanece. A obra que fundou e dirigiu por quatro décadas, hoje Escola Profissionalizante Irmã Maria, também continua a serviço especialmente dos mais humildes por quem ela tinha especial carinho.

A Escola hoje

A Irmã Maria, pelo legado de virtudes que nos deixou, está viva em nossos pensamentos. Sua obra continua servindo a comunidade paraisopolense. A Escola Profissionalizante Irmã Maria é dirigida por voluntários do Conselho Diretor, que tem como Presidente a Srª Maria Helena Almeida Pedroza. Conta com professores voluntários, que ministram aulas dos seguintes cursos: Corte e costura, Crochê, Bordado (crivo), Artesanato, Pintura em tecido, Confeitaria e Informática. Apresentamos fotos de aulas de alguns cursos.

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Depoimentos colhidos em 2010 pelo padre Rudy e professor Luiz

São muitos os depoimentos que atestam a importância da querida religiosa na vida dos paraisopolenses. Todas as pessoas que com ela conviveram gostariam certamente de expressar sentimentos de gratidão e carinho em relação à Irmã Maria. Destacamos alguns depoimentos.

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“Ir. Maria incentivou o Pe. Wanderley na sua caminhada para o Sacerdócio. A maleta com que ele foi para o seminário foi dada pela Ir. Maria. Com o apoio da Irmã realizou uma linda festa no dia das mães. Toda quarta-feira a Irmã trazia comunhão para as pessoas da comunidade. Todos gostavam muito da Ir. Maria que dizia brincando: “Se for para fazer a vontade de vocês, eu amanheço aqui.” (Benedita Rosa Teixeira - Mãe do Pe. Wanderley Félix Teixeira - Bairro do Uruguaia)

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“Ir. Maria fez muito bem entre nós. Dava receitas de remédios caseiros. Tenho ainda algumas plantas medicinais que a Irmã me deu para plantar. Ela formava lideranças para animar as atividades da capela.” (Dito Carlinhos – Bairro da Bela Vista)

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“A Ir. Maria vinha diversas vezes à Colônia. Naquele tempo, a gente não tinha muitas informações. Ela nos informava tanto na parte religiosa como na social. A gente ficava sabendo por ela o que acontecia no mundo. A todos que a procuravam ela socorria.” (José Maria Rodrigues - Antiga Colônia)

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“Ir. Maria vinha sempre a nossa casa, trazia comunhão para mim e para meu marido Expeditinho que era hanseniano. Ela providenciava remédios e fazia curativos quando precisava. Ela vinha com o Pe. João Faria, que atendia-nos em confissão . Ir. Maria foi uma santa.”  (Isabel Mendes Moura - Bairro do Lava-pés)

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“No início na casinha que o Colégio cedeu para Ir. Maria, havia apenas o curso de Corte e Costura. Todos os sábados, havia refeição para os pobres, vinha muita gente e não faltava para ninguém. Todos os dias preparava receitas diferentes e distribuía a todos que a procuravam. Quando ela quis construir banheiros para os hansenianos, alguns vizinhos colocavam resistência por desconhecimento e medo de contágio, e Irmã Maria dizia: “não há perigo, eu já fui vacinada contra a doença!” Devagarzinho, ela foi mudando a mentalidade das pessoas que foram perdendo o preconceito. Já doente, a Irmã ainda encontrava forças para cuidar de uma criancinha até o horário do almoço, quando a mãe vinha buscá-la. Irmã Maria foi uma santa.” (Profª Claudina Gomes de Oliveira Braga – colaboradora no início da obra)

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“Quando a Ir. Maria não tinha ainda o fusquinha, eu a levava para celebrações e distribuição da Eucaristia às pessoas enfermas na zona rural. Com grande zelo preparava a mesinha, colocava com todo carinho uma toalha em respeito ao Santíssimo Sacramento. Fazia de tudo para ajudar e melhorar a vida dos mais carentes. As lavadeiras dos bairros Lavapés e da Vila Frei Orestes enfrentavam grandes dificuldades para lavar roupa - ganha pão de muitas delas -, pois não havia água canalizada no local. Ir. Maria levantou recursos, buscou ajuda e construiu uma espécie de lavanderia comunitária entre os dois bairros. A seu pedido, o Sílvio Dias e eu solicitamos à D. Martinha a doação do terreno ao lado da “igrejinha do Braz” onde ela construiu um pequeno ambulatório. Lá a Irmã prestava assistência aos doentes, curava suas feridas e tomava providências para que nenhum medicamento  faltasse para eles.  Ir. Maria foi uma dádiva de Deus para nós!” (José de Oliveira Braga – Zuza)

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“Na época, o atendimento aos hansenianos não era nada satisfatório. Faltavam assistência e medicamentos, mas o que doía mesmo era a segregação e a humilhação que a gente enfrentava, devido ao medo de contágio. Também os filhos dos hansenianos sentiam-se humilhados na escola, muitos deles abandonavam o estudo. Foi a Ir. Maria que se aproximou de nós – ela não tinha medo do contágio – e nos tratou como seres humanos, como irmãos. Curava nossas feridas. Corria atrás de médicos e de remédios. Seu trabalho foi fundamental para derrubar o preconceito e a discriminação que sofríamos. Ela ajudou a desenvolver e a elevar a autoestima de todos nós. Orientava-nos e convidava padres para a celebração da Eucaristia na capelinha do Lavapés. Preparava o altar com todo carinho e, no final da missa, distribuía doces para todos. As crianças aguardavam ansiosamente esse momento.” (Antônio Teodoro da Silva, hanseniano e funcionário do então Serviço de Saúde e Vigilância Sanitária do Governo)

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“Na época em que passei a residir em Paraisópolis, grávida de meu filho Newton, passava por dificuldades financeiras. A Ir. Maria me deu todo apoio afetivo e material. Todos os dias, início da tarde, eu ia à sua Escola. Meu estômago não aceitava nada, só a sopa feita com todo carinho pela religiosa é que me alimentava e sustentava minha gravidez. Meu filho, graças a Deus e à atenção da Ir. Maria, nasceu com saúde. Ela me ensinou detalhes da restauração de imagens. O dinheiro que as pessoas doavam pelo serviço que eu fazia, ela me dava todinho, devido a minha situação financeira. Com ela aprendi a pintar melhor, a fazer artesanato com sementes, a bordar em peneira, a trabalhar com pequenos pedaços de pau, que eu transformava em cenas religiosas e campestres. Na culinária, muito aprendi com ela, como por exemplo, a preparar  deliciosos doces em conserva. Ir. Maria fazia remédios caseiros e dava às pessoas necessitadas. Certo dia, eu estava com muita dor, seu remédio me curou, nunca mais senti o problema. Doava-se inteiramente ao apostolado e ao amor ao próximo especialmente aos mais necessitados. Não dizia não para ninguém. Distribuía material de construção, fazia serviço de pedreiro, serrava, soldava. Fazia tudo o que fosse necessário e suas forças lhe permitissem. Além do corte e costura, ensinava crochê e tricô às meninas pobres. Mostrava-lhes como encerar, varrer e desempenhar outras tarefas domésticas, inclusive a arte de bem cozinhar, e as  indicava para trabalhar nas residências. Às gestantes, orientava quanto à alimentação e à saúde, pedindo-lhes para que não fumassem. Dava-lhes noções de higiene, doava-lhes alimentos e a sopa, que também oferecia a todos que visitavam sua “escolinha” como carinhosamente chamava sua obra. Ajudava na confecção dos enxovais para recém-nascidos. Foi uma mãe para mim e para todos que a procuravam. Foi uma luz , um exemplo de vida. Ficará para sempre em meu coração!” (Rosa Pinto Ribeiro - Artista plástica, compositora musical – Bairro do Lambari)

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“Conheci Ir. Maria há tempos. Ainda não havia pastorais na paróquia e o atendimento espiritual nos bairros era difícil. Com seu fusquinha cinza que os benfeitores lhe deram, ela percorria a área rural, fazendo celebrações e levando a Santíssima Eucaristia a quem pudesse receber. Na primeira vez, o padre ia para a confissão e, depois, ela continuava, dando catequese e formação aos moradores. Em sua escolinha os pobres recebiam lições de corte e costura, artesanato e outros. Pessoas não carentes também frequentaram cursos de pintura, confecções de flores e arte culinária. O  melhor momento para ela era pegar criancinhas  no colo, enquanto as mães aprendiam alguma coisa. Sempre havia uma sopa nutritiva para os aprendizes. Ir. Maria ajudava os pobres com doação de alimento. Também distribuía roupas usadas em bom estado. Auxiliava na cerimônia dos batizados na Matriz e capelas rurais, sendo também Ministra da Eucaristia. Durante muito tempo, à tarde, coordenava, na Matriz, a Hora Santa pelas Vocações. Na “igrejinha do Braz” (Lavapés), atendia os hansenianos e levava-lhes a Santa Comunhão. A iniciativa de Ir. Maria fazia-nos admirá-la e ela ria como sempre, afirmando: ‘Quero ficar santa!’ Era uma pessoa generosa, otimista e realizada, a querida Ir. Maria.” (Profª Glycia Pereira).

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Blog em construção

Irmã Maria Mildner,

a mãe dos enfermos e dos pobres

Helma, vocábulo de origem teutônica cujo significado é proteção, foi o nome escolhido pelos pais para aquela que, pela bondade de Deus, se tornaria a protetora dos mais necessitados em nossa cidade. Quando de sua consagração religiosa, ela o substituiu pelo nome da Mãe de Jesus e assim se tornou conhecida de todos nós como Irmã Maria.

Irmã Maria Mildner

Irmã Maria nasceu em uma família profundamente cristã, de origem alemã no Bairro São Geraldo, zona rural do município de Estrela-RS, no dia 2 de julho de 1926. Era a segunda dos onze filhos de Rodolfo Mildner e Guilhermina Paulina Eckert Mildner.

Ainda menina, com seis anos, mudou-se para Boa Vista do Buricá, no Alto Uruguai, noroeste do Rio Grande do Sul, bem próximo à fronteira com a Argentina. O lugar ainda estava recebendo os primeiros moradores. Antes de sua família, havia apenas três outras residindo no lugar que, segundo ela mesma dizia ainda era inóspito, mata virgem. À noite ela gostava de ouvir o ronco das onça e o grito dos macacos. Lá não existia estrada, não havia escola, nem igreja. Tudo estava por ser ainda construído.

A família trabalhava na lavoura, criava vacas, porcos e galinhas. Levava uma vida austera. “Não se podia comprar um sapato, um sabonete sequer. Minha mãe torrava pedacinhos de batata doce para fazer alguma coisa parecida com pó de café. O açúcar era feito com melado de cana”[1].

Desde pequena, Helma sentia vontade de se tornar freira. Aos treze anos já ajudava na igreja. Com catorze, organizou a 1ª coroação da imagem de Nossa Senhora em Boa Vista do Buricá. Quando mocinha pensou em se casar para ter filhos, pois sempre gostou muito de crianças, mas decidiu pela vida religiosa. Sua mãe lhe deu uma oração mariana, que ela rezava muitas vezes. Nossa Senhora me mostrou o caminho, dizia ela[2].

No dia 1º de março de 1945, juntamente com outra irmã mais nova, hoje Irmã Lúcia, Helma foi admitida no Convento das Ursulinas de Santo Augusto-RS. Residiu algum tempo em Rezende-RJ. De 1958 a 1961, morou na cidade Rio de Janeiro. Em seguida voltou para seu estado, residindo em Caxias do Sul até 1965. 

Irmã Maria chegou à nossa cidade no dia 2 de fevereiro de 1965. No início do ano seguinte, à sombra de uma árvore no então Instituto Monsenhor Dutra, hoje Casa da Criança, nascia sua obra. Ela orientava, evangelizava e ensinava os mais humildes. Começou com trabalhos manuais com palha de milho.

Com seu amável sorriso e o sotaque de filha de imigrantes alemães, como Maria, a Mãe de Jesus, estava sempre pronta a dizer sim aos projetos de Deus. Seu espírito de caridade cristã superava todo e qualquer obstáculo na missão de servir, por sinal o lema de sua congregação.

Em sua aparente fragilidade física, tinha a força interior dos santos, que superava o medo, o preconceito ou a discriminação em se prestar atendimento aos hansenianos, que, na época em que aqui chegou, tinham praticamente só nela o anjo bom que ia até eles para curar-lhes as feridas, não somente as do corpo, mas também  as produzidas na alma pelo sentimento da segregação e do isolamento.

Irmã Maria doava-se sem reservas à causa dos mais pobres e sofridos, não apenas para saciar-lhes a fome com as refeições que lhes oferecia ou as cestas básicas que conseguia para eles; ela procurava que crianças, jovens e adultos aprendessem algo, de acordo com suas aptidões, para obterem, pela capacidade própria, o seu sustento, e se sentissem felizes, com maior estima por si mesmos.

O Colégio lhe cedeu, então, uma casinha onde passou a dar cursos de corte e costura, bordado e trabalho em madeira. Também do Colégio ganhou sua primeira máquina de costura, e depois outra do Padre Ângelo Nogara.  Assim trabalhava e dava aulas. Dedicava-se ainda a trabalhos pastorais na paróquia. Ajudava os sacerdotes na celebração de batizados, dirigia celebrações da Palavra nos bairros periféricos da cidade e nas comunidades rurais, onde também ajudava os padres na celebração de missas. Nas aulas de catequese que ministrava às crianças, jovens e adultos, sabia como motivá-los, passava slides e filmes, muitos deles da vida de santos. E não se esquecia de distribuir generosamente balas e doces em muitas ocasiões.

Em seguida uma nova fase se iniciou. Como o número de alunos estava aumentando, precisava de mais espaço para as atividades. Conseguiu emprestado do Sr. Alfredo Machado de Carvalho um galpão na esquina da Rua Duque de Caxias com a Travessa Alves de Lima. Findo o prazo de cessão do imóvel, resolveu adquirir o prédio.

Irmã Maria não dispunha de recursos financeiros para comprar aquele barracão. Pediu ajuda à Prefeitura, que naquela época não teve como ajudá-la. Caso não conseguisse a quantia necessária, teria que entregar o imóvel. Ela não desanimou, resolveu pedir à comunidade. Contou com a colaboração do Padre Galdino Falquetto, que pedia doações nas missas que celebrava.

Tive a graça de acompanhar a Irmã Maria de porta em porta, diariamente. Foram muitos os que colaboraram. Centenas de pobrezinhos deram do pouco que possuíam. Depois de persistentes caminhadas, algumas sem êxito, Irmã Maria finalmente conseguiu o valor necessário para adquirir o imóvel, 15.000 cruzeiros na época.

Com recursos doados pela Misereor, entidade alemã, por pessoas generosas da comunidade, pelo Padre Rudy Antônio Mildner, seu irmão, e a colaboração da Prefeitura, aos poucos, o prédio foi passando por reformas, ampliação e se tornou a sede definitiva da então Escola Doméstica Maria Mãe da Igreja, lugar da partilha e do encontro de todos que procuravam pela querida religiosa: ricos, remediados e, principalmente, os pobres, e chegou à estrutura atual.

O fusquinha, Irmã Maria recebeu da Adveniat, outra entidade da Alemanha, que colabora com projetos sociais dos países mais pobres. A querida religiosa gostava muito desse carro, que dirigia por todos os caminhos do município e da região na assistência material e espiritual que dispensava aos pobres e enfermos. Falava de Deus, presidia celebrações, distribuía a Eucaristia, confortava os doentes na cidade ou nos bairros rurais. Irmã Maria só parou quando, devido às limitações que a perda da saúde lhe impôs, foi aconselhada pelos médicos a não mais dirigir.

Irmã Maria fez de sua vida um permanente apostolado. Viveu entre nós quarenta e um anos, sempre fazendo o bem, assumindo o ideal do verdadeiro serviço cristão em nossa comunidade na total disponibilidade ao povo e, de modo especial, aos mais pobres, aos  doentes  e  aos excluídos. Era, por isso, estimada por todos que a conheciam. No dia 25 de janeiro de 1981, poucos dias antes de completar dezesseis anos entre nós, recebeu da Câmara Municipal o título de Cidadã Paraisopolense pelos serviços prestados ao desenvolvimento de nossa cidade.

            Nos últimos anos de sua vida, dividiu seus dias entre internações e atuação em sua obra. Hospitalizada em São Paulo por diversas vezes, seu desejo era sempre de voltar para o convívio dos pobres, onde ela mais se sentia bem. Dizia sempre: “Estou doente, mas vou ficar bem. Preciso de vocês para continuar minha obra”. Irmã Maria faleceu no dia 28 de março de 2006, causando muita comoção na cidade. Centenas de pessoas participaram do velório e da missa presidida por seu irmão, Padre Rudy. Lágrimas sentidas e saudosas rolavam no rosto de crianças, jovens e adultos, que sempre amaram a Irmã Maria como mestra e como mãe.

Irmã Maria deixa para nós a herança da fé comprometida, da caridade vivenciada, do carinho para com todos, do amor incondicional a Deus, da consagração de uma vida toda ao ideal cristão, da certeza da ressurreição que já alcançou.

Irmã Maria, a Irmã Maria do Paraíso, será sempre uma referência inesquecível para todos os cristãos e pessoas de todas as crenças que a conheceram. E nós, que temos a graça do dom da fé, sabemos que, junto de Deus, na plenitude da verdadeira felicidade, Irmã Maria intercede por todos e por cada um, por suas irmãs consagradas, pelos seus familiares e por nossa paróquia. Isso nos conforta a ameniza a dor da separação e da saudade![3]

Irmã Maria voltou aos braços do Pai, mas seu testemunho de doação permanece. A obra que fundou e dirigiu por quatro décadas, hoje Escola Profissionalizante Irmã Maria, também continua a serviço especialmente dos mais humildes por quem ela tinha especial carinho.

Luiz Gonzaga da Rosa


[1] GONÇALVES, S. 50 anos de uma vida que vale ouro. Folha da Serra. Paraisópolis, mar. 2003, p. 7

[2] Ibidem.

[3] Anunciai!: informativo da Paróquia São José. Paraisópolis, jun./jul. 2006, p. 4.

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sábado, 16 de novembro de 2024

Reconhecimento em forma de poema:

Quem é esta mulher?

Quem é esta mulher, que, deixando as belezas das querências gaúchas e o amoroso aconchego dos seus, busca outras gentes e outras terras para amar como se suas fossem?

Quem é esta mulher, que, recém chegada às terras do Paraíso, ouve os clamores de pessoas sofridas, e, solidária, ameniza-lhes as dores?

Foto que fica na fachada da Escola Ir. Maria
Reproduzida e restaurada
pelo artista plástico
Braz Nunes da Rosa 

Quem é esta mulher que, vencendo o medo, o preconceito e a exclusão, convive com os doentes, curando-lhes as feridas do corpo e da discriminação?

Quem é esta mulher que sente a fome dos mais pobres e a sede dos pequenos e se põe a distribuir o alimento da alma e a partilhar o pão e a água que nutrem e dão vida?

Quem é esta mulher, que, à sombra maternal de uma árvore, reúne os humildes para lhes mostrar os caminhos de Deus e dar aulas de bem viver?

Quem é esta mulher, que, sob a mesma árvore, inicia a casa da acolhida, onde os mais pobres se enriquecem, não só recebendo, mas construindo a própria subsistência?

Quem é esta mulher que se acomoda em um simples barracão, que se torna o lar dos pobres e a casa da escuta das dores e do bálsamo do aconselhamento e do consolo?

Quem é esta mulher, que, resignada, forte e persistente, de porta em porta, mendiga a ajuda necessária para adquirir a sede da Escola “Maria, Mãe da Igreja”?

Quem é esta mulher, que, nas capelas mais distantes ou em residências acolhedoras, preside a celebração da Palavra e partilha a Comunhão?

Quem é esta mulher que, com a ternura de sua voz, acolhe os que serão batizados, auxilia os sacerdotes, orientando pais e padrinhos?

Quem é esta mulher que dignifica todas as mulheres no apostolado do sorriso e da amizade para com todos que cruzam seu caminho ou buscam seu apoio?

Quem esta mulher que as poeirentas ou enlameadas estradas enfrenta em seu fusquinha para levar o alimento da Palavra e da Eucaristia aos doentes próximos e distantes?

Quem é esta mulher, que doente, quer viver mais para amar e servir aos pequeninos, que nela sempre tiveram a mãe, e não podem ficar órfãos de seu afeto e de seu carinho?

Quem é esta mulher, que não é vencida pela morte, pois ressuscita nos braços do Pai, que a acolhe com toda a alegria, e da Mãe Maria, que um dia inspirou seus pais para que lhe dessem seu nome, sinal da vida, da vocação e do sim que assumiu com amor?

O nome desta mulher traz a marca do divino na beleza de sua simplicidade! O nome desta mulher permanecerá qual luz a iluminar o caminho que conduz ao verdadeiro Bem e ao Amor em plenitude!

O nome desta mulher é Maria, ou melhor, para com mais precisão expressar sua doação aos irmãos e irmãs, e sua sempre fraterna vivência, o nome desta mulher é Irmã Maria!

Fonte: O Paraíso de José, Luiz Gonzaga da Rosa - Editora Santuário (2010)

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Celebramos hoje

o Centenário de Nascimento da Irmã Maria O tempo. Nele nascemos, vivemos e por ele passamos. Deus está acima do tempo, é eterno. E nos deu o...