Em 2010, padre Rudy Mildner, scj, e professor Luiz Rosa editaram um folheto com informações sobre a vida e a obra da religiosa ursulina. O conteúdo apresenta sinteticamente uma peque biografia da irmã Maria e depoimentos de diversas pessoas que com ela conviveram.
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Irmã Maria Mildner, mãe dos enfermos e dos pobres
Sua vida e obra
são testemunhos vivos de seu amor a Deus e
ao próximo!
Estrela-RS, 2/7/1926 – Paraisópolis-MG, 28/3/2006
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Família e Vida Religiosa
Irmã Maria nasceu em uma família de origem
alemã, profundamente cristã, no Bairro São Geraldo, zona rural do município de
Estrela-RS, no dia 2 de julho de 1926. Era a segunda dos onze filhos de Rodolfo
Mildner e Guilhermina Paulina Eckert Mildner.
No dia 1º de março de 1945, juntamente com
a irmã mais nova, hoje Irmã Lúcia, Helma, foi admitida no Convento das
Ursulinas de Santo Augusto-RS. Residiu algum tempo em Rezende-RJ. De 1958 a
1961, morou na cidade Rio de Janeiro. Em seguida voltou para seu estado,
residindo em Caxias do Sul até 1965. Irmã Maria veio para o Colégio Santa
Ângela de Paraisópolis-MG no dia 2 de
fevereiro de 1965.
O difícil começo
No início de 1966, à sombra de uma árvore,
no então Instituto Monsenhor Dutra, hoje Casa da Criança, nascia sua obra. Ela
orientava, evangelizava e ensinava os mais humildes. Começou com trabalhos
manuais com palha de milho.
O Colégio cedeu-lhe, então, uma casinha,
onde ela passou a dar cursos de corte e costura, bordado e trabalho em madeira.
Como o número de alunos estava aumentando, precisava de mais espaço para as atividades.
Conseguiu do Sr. Alfredo Machado de Carvalho o empréstimo de um galpão na
esquina da Rua Duque de Caxias com a Travessa Alves de Lima. Findo o prazo de
cessão do imóvel, acompanhada do jovem Luiz Gonzaga da Rosa, saiu de porta em
porta pedindo ajuda para compra do barracão. Com a colaboração de muitas
famílias, adquiriu o prédio.
Com recursos doados pela Misereor, entidade
alemã, por pessoas generosas da comunidade, por seu irmão, padre Rudy Antônio
Mildner, e a colaboração da Prefeitura, aos poucos, o prédio passou por reforma
e ampliação e se tornou a sede definitiva da então Escola Doméstica Maria Mãe
da Igreja, lugar da partilha e do encontro de todos que procuravam pela querida
religiosa: ricos, remediados e, principalmente, os pobres, e chegou à estrutura
atual.
Reconhecimento e Partida
Irmã Maria fez de sua vida permanente
apostolado. Viveu entre nós quarenta e um anos, sempre fazendo o bem, assumindo
o ideal do verdadeiro serviço cristão em total disponibilidade ao povo e, de
modo especial, aos mais pobres, doentes e excluídos. Era, por isso, estimada
por todos que a conheciam. No dia 25 de janeiro de 1981, recebeu da Câmara
Municipal o título de Cidadã Paraisopolense pelos serviços prestados ao
desenvolvimento de nossa cidade.
Faleceu no dia 28 de março de 2006,
causando muita comoção na cidade. Centenas de pessoas participaram do velório e
da missa presidida por seu irmão, Padre Rudy. Lágrimas sentidas e saudosas
rolavam no rosto de crianças, jovens e adultos, que sempre amaram a Irmã Maria
como mestra e mãe.
Irmã Maria voltou aos braços do Pai, mas
seu testemunho de doação permanece. A obra que fundou e dirigiu por quatro
décadas, hoje Escola Profissionalizante Irmã Maria, também continua a serviço
especialmente dos mais humildes por quem ela tinha especial carinho.
A Escola hoje
A Irmã Maria, pelo legado de virtudes que nos deixou, está viva em nossos pensamentos. Sua obra continua servindo a comunidade paraisopolense. A Escola Profissionalizante Irmã Maria é dirigida por voluntários do Conselho Diretor, que tem como Presidente a Srª Maria Helena Almeida Pedroza. Conta com professores voluntários, que ministram aulas dos seguintes cursos: Corte e costura, Crochê, Bordado (crivo), Artesanato, Pintura em tecido, Confeitaria e Informática. Apresentamos fotos de aulas de alguns cursos.
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Depoimentos colhidos em 2010 pelo padre Rudy e professor Luiz
São muitos os depoimentos que atestam a importância da querida religiosa na vida dos paraisopolenses. Todas as pessoas que com ela conviveram gostariam certamente de expressar sentimentos de gratidão e carinho em relação à Irmã Maria. Destacamos alguns depoimentos.
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“Ir. Maria incentivou o Pe. Wanderley na sua caminhada para o Sacerdócio. A maleta com que ele foi para o seminário foi dada pela Ir. Maria. Com o apoio da Irmã realizou uma linda festa no dia das mães. Toda quarta-feira a Irmã trazia comunhão para as pessoas da comunidade. Todos gostavam muito da Ir. Maria que dizia brincando: “Se for para fazer a vontade de vocês, eu amanheço aqui.” (Benedita Rosa Teixeira - Mãe do Pe. Wanderley Félix Teixeira - Bairro do Uruguaia)
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“Ir. Maria fez muito bem entre nós. Dava receitas de remédios caseiros. Tenho ainda algumas plantas medicinais que a Irmã me deu para plantar. Ela formava lideranças para animar as atividades da capela.” (Dito Carlinhos – Bairro da Bela Vista)
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“A Ir. Maria vinha diversas vezes à Colônia. Naquele tempo, a gente não tinha muitas informações. Ela nos informava tanto na parte religiosa como na social. A gente ficava sabendo por ela o que acontecia no mundo. A todos que a procuravam ela socorria.” (José Maria Rodrigues - Antiga Colônia)
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“Ir. Maria vinha sempre a nossa casa, trazia comunhão para mim e para meu marido Expeditinho que era hanseniano. Ela providenciava remédios e fazia curativos quando precisava. Ela vinha com o Pe. João Faria, que atendia-nos em confissão . Ir. Maria foi uma santa.” (Isabel Mendes Moura - Bairro do Lava-pés)
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“No início na casinha que o Colégio cedeu para Ir. Maria, havia apenas o curso de Corte e Costura. Todos os sábados, havia refeição para os pobres, vinha muita gente e não faltava para ninguém. Todos os dias preparava receitas diferentes e distribuía a todos que a procuravam. Quando ela quis construir banheiros para os hansenianos, alguns vizinhos colocavam resistência por desconhecimento e medo de contágio, e Irmã Maria dizia: “não há perigo, eu já fui vacinada contra a doença!” Devagarzinho, ela foi mudando a mentalidade das pessoas que foram perdendo o preconceito. Já doente, a Irmã ainda encontrava forças para cuidar de uma criancinha até o horário do almoço, quando a mãe vinha buscá-la. Irmã Maria foi uma santa.” (Profª Claudina Gomes de Oliveira Braga – colaboradora no início da obra)
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“Quando a Ir. Maria não tinha ainda o fusquinha, eu a levava para celebrações e distribuição da Eucaristia às pessoas enfermas na zona rural. Com grande zelo preparava a mesinha, colocava com todo carinho uma toalha em respeito ao Santíssimo Sacramento. Fazia de tudo para ajudar e melhorar a vida dos mais carentes. As lavadeiras dos bairros Lavapés e da Vila Frei Orestes enfrentavam grandes dificuldades para lavar roupa - ganha pão de muitas delas -, pois não havia água canalizada no local. Ir. Maria levantou recursos, buscou ajuda e construiu uma espécie de lavanderia comunitária entre os dois bairros. A seu pedido, o Sílvio Dias e eu solicitamos à D. Martinha a doação do terreno ao lado da “igrejinha do Braz” onde ela construiu um pequeno ambulatório. Lá a Irmã prestava assistência aos doentes, curava suas feridas e tomava providências para que nenhum medicamento faltasse para eles. Ir. Maria foi uma dádiva de Deus para nós!” (José de Oliveira Braga – Zuza)
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“Na época, o atendimento aos hansenianos não era nada satisfatório. Faltavam assistência e medicamentos, mas o que doía mesmo era a segregação e a humilhação que a gente enfrentava, devido ao medo de contágio. Também os filhos dos hansenianos sentiam-se humilhados na escola, muitos deles abandonavam o estudo. Foi a Ir. Maria que se aproximou de nós – ela não tinha medo do contágio – e nos tratou como seres humanos, como irmãos. Curava nossas feridas. Corria atrás de médicos e de remédios. Seu trabalho foi fundamental para derrubar o preconceito e a discriminação que sofríamos. Ela ajudou a desenvolver e a elevar a autoestima de todos nós. Orientava-nos e convidava padres para a celebração da Eucaristia na capelinha do Lavapés. Preparava o altar com todo carinho e, no final da missa, distribuía doces para todos. As crianças aguardavam ansiosamente esse momento.” (Antônio Teodoro da Silva, hanseniano e funcionário do então Serviço de Saúde e Vigilância Sanitária do Governo)
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“Na época em que passei a residir em Paraisópolis, grávida de meu filho Newton, passava por dificuldades financeiras. A Ir. Maria me deu todo apoio afetivo e material. Todos os dias, início da tarde, eu ia à sua Escola. Meu estômago não aceitava nada, só a sopa feita com todo carinho pela religiosa é que me alimentava e sustentava minha gravidez. Meu filho, graças a Deus e à atenção da Ir. Maria, nasceu com saúde. Ela me ensinou detalhes da restauração de imagens. O dinheiro que as pessoas doavam pelo serviço que eu fazia, ela me dava todinho, devido a minha situação financeira. Com ela aprendi a pintar melhor, a fazer artesanato com sementes, a bordar em peneira, a trabalhar com pequenos pedaços de pau, que eu transformava em cenas religiosas e campestres. Na culinária, muito aprendi com ela, como por exemplo, a preparar deliciosos doces em conserva. Ir. Maria fazia remédios caseiros e dava às pessoas necessitadas. Certo dia, eu estava com muita dor, seu remédio me curou, nunca mais senti o problema. Doava-se inteiramente ao apostolado e ao amor ao próximo especialmente aos mais necessitados. Não dizia não para ninguém. Distribuía material de construção, fazia serviço de pedreiro, serrava, soldava. Fazia tudo o que fosse necessário e suas forças lhe permitissem. Além do corte e costura, ensinava crochê e tricô às meninas pobres. Mostrava-lhes como encerar, varrer e desempenhar outras tarefas domésticas, inclusive a arte de bem cozinhar, e as indicava para trabalhar nas residências. Às gestantes, orientava quanto à alimentação e à saúde, pedindo-lhes para que não fumassem. Dava-lhes noções de higiene, doava-lhes alimentos e a sopa, que também oferecia a todos que visitavam sua “escolinha” como carinhosamente chamava sua obra. Ajudava na confecção dos enxovais para recém-nascidos. Foi uma mãe para mim e para todos que a procuravam. Foi uma luz , um exemplo de vida. Ficará para sempre em meu coração!” (Rosa Pinto Ribeiro - Artista plástica, compositora musical – Bairro do Lambari)
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“Conheci Ir. Maria há tempos. Ainda não havia pastorais na paróquia e o atendimento espiritual nos bairros era difícil. Com seu fusquinha cinza que os benfeitores lhe deram, ela percorria a área rural, fazendo celebrações e levando a Santíssima Eucaristia a quem pudesse receber. Na primeira vez, o padre ia para a confissão e, depois, ela continuava, dando catequese e formação aos moradores. Em sua escolinha os pobres recebiam lições de corte e costura, artesanato e outros. Pessoas não carentes também frequentaram cursos de pintura, confecções de flores e arte culinária. O melhor momento para ela era pegar criancinhas no colo, enquanto as mães aprendiam alguma coisa. Sempre havia uma sopa nutritiva para os aprendizes. Ir. Maria ajudava os pobres com doação de alimento. Também distribuía roupas usadas em bom estado. Auxiliava na cerimônia dos batizados na Matriz e capelas rurais, sendo também Ministra da Eucaristia. Durante muito tempo, à tarde, coordenava, na Matriz, a Hora Santa pelas Vocações. Na “igrejinha do Braz” (Lavapés), atendia os hansenianos e levava-lhes a Santa Comunhão. A iniciativa de Ir. Maria fazia-nos admirá-la e ela ria como sempre, afirmando: ‘Quero ficar santa!’ Era uma pessoa generosa, otimista e realizada, a querida Ir. Maria.” (Profª Glycia Pereira).
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