sábado, 16 de novembro de 2024

Reconhecimento em forma de poema:

Quem é esta mulher?

Quem é esta mulher, que, deixando as belezas das querências gaúchas e o amoroso aconchego dos seus, busca outras gentes e outras terras para amar como se suas fossem?

Quem é esta mulher, que, recém chegada às terras do Paraíso, ouve os clamores de pessoas sofridas, e, solidária, ameniza-lhes as dores?

Foto que fica na fachada da Escola Ir. Maria
Reproduzida e restaurada
pelo artista plástico
Braz Nunes da Rosa 

Quem é esta mulher que, vencendo o medo, o preconceito e a exclusão, convive com os doentes, curando-lhes as feridas do corpo e da discriminação?

Quem é esta mulher que sente a fome dos mais pobres e a sede dos pequenos e se põe a distribuir o alimento da alma e a partilhar o pão e a água que nutrem e dão vida?

Quem é esta mulher, que, à sombra maternal de uma árvore, reúne os humildes para lhes mostrar os caminhos de Deus e dar aulas de bem viver?

Quem é esta mulher, que, sob a mesma árvore, inicia a casa da acolhida, onde os mais pobres se enriquecem, não só recebendo, mas construindo a própria subsistência?

Quem é esta mulher que se acomoda em um simples barracão, que se torna o lar dos pobres e a casa da escuta das dores e do bálsamo do aconselhamento e do consolo?

Quem é esta mulher, que, resignada, forte e persistente, de porta em porta, mendiga a ajuda necessária para adquirir a sede da Escola “Maria, Mãe da Igreja”?

Quem é esta mulher, que, nas capelas mais distantes ou em residências acolhedoras, preside a celebração da Palavra e partilha a Comunhão?

Quem é esta mulher que, com a ternura de sua voz, acolhe os que serão batizados, auxilia os sacerdotes, orientando pais e padrinhos?

Quem é esta mulher que dignifica todas as mulheres no apostolado do sorriso e da amizade para com todos que cruzam seu caminho ou buscam seu apoio?

Quem esta mulher que as poeirentas ou enlameadas estradas enfrenta em seu fusquinha para levar o alimento da Palavra e da Eucaristia aos doentes próximos e distantes?

Quem é esta mulher, que doente, quer viver mais para amar e servir aos pequeninos, que nela sempre tiveram a mãe, e não podem ficar órfãos de seu afeto e de seu carinho?

Quem é esta mulher, que não é vencida pela morte, pois ressuscita nos braços do Pai, que a acolhe com toda a alegria, e da Mãe Maria, que um dia inspirou seus pais para que lhe dessem seu nome, sinal da vida, da vocação e do sim que assumiu com amor?

O nome desta mulher traz a marca do divino na beleza de sua simplicidade! O nome desta mulher permanecerá qual luz a iluminar o caminho que conduz ao verdadeiro Bem e ao Amor em plenitude!

O nome desta mulher é Maria, ou melhor, para com mais precisão expressar sua doação aos irmãos e irmãs, e sua sempre fraterna vivência, o nome desta mulher é Irmã Maria!

Fonte: O Paraíso de José, Luiz Gonzaga da Rosa - Editora Santuário (2010)

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Prefácio do livro "Irmã Maria do Paraíso", publicado em 2021:

“Espalhou, deu aos necessitados; a sua justiça permanece para sempre, e a sua força se exaltará em glória.” (Salmo 112, 9)

Capa do livro em sua homenagem
Irmã Maria Mildner, religiosa ursulina da União Romana, viveu a metade de sua vida em Paraisópolis, MG. no Colégio Santa Ângela. Olhar atento e vigilante, iniciou sua missão no Bairro Querosene dedicando-se aos leprosos que viviam marginalizados nesse local e conseguiu com seu trabalho erradicar essa doença da região. Criou o centro de atendimento aos pobres e lá dedicava cem por cento de seu tempo, à “Escolinha da Irmã Maria”. Pedia roupa para doar aos necessitados, ensinava as mães carentes como cuidar dos filhos e ensinava a costurar e cuidar da casa ao mesmo tempo que evangelizava. Tudo o que fazia era com muita humanidade e bondade. Visitava os doentes da cidade e levava a comunhão. Nas suas idas e vindas, sozinha no seu fusca ou com o padre celebrante, sempre procurava conquistar novas vocações ursulinas. Muitas ursulinas hoje são gratas por esse seu trabalho.

No cuidado para com os mais necessitados ela encontrou o motivo de seu chamado à vida religiosa, levando muito a sério a responsabilidade ursulina “de trabalhar pelo verdadeiro e total desenvolvimento da pessoa”  (C. 103).

Sua história cativa e enche de gratidão. Vemos uma mulher simples, despojada,  humana, caridosa e com compaixão pelos mais necessitados. Sua presença era popular em Paraisópolis. Todos gostavam de receber sua visita. Tinha sempre uma palavra carinhosa e um olhar de misericórdia. Vale a pena conhecer a sua vida. Foi uma presença de amor. De Paraíso ao Paraíso Eterno!

Gratidão e admiração pelo legado de nossa Irmã Maria.

Ir. Maria-Regina Trautmann   -  Ir. Maria Vitória Neves  -  Ir. Artimira Gomes Vieira

Comunidade Ursulina do Rio de Janeiro

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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

A razão desta página:

Irmã Maria do Paraíso

Irmã Maria Mildner viveu o ideal do verdadeiro serviço cristão em nossa cidade  durante mais de quarenta anos em total disponibilidade ao nosso povo e, de modo especial, aos mais pobres, doentes e excluídos. Com seu amável sorriso e o sotaque de filha de imigrantes alemães, como Maria, a Mãe de Jesus, estava sempre pronta a dizer “sim” aos projetos de Deus. Seu espírito de caridade cristã superava todo e qualquer obstáculo na missão de servir, por sinal o lema de sua congregação, a Ordem de Santa Úrsula.

Capa do livro escrito em sua homenagem

Em sua aparente fragilidade física, tinha a força interior dos santos, que superava o medo, o preconceito ou a discriminação, ao prestar atendimento aos hansenianos, que, na época em que aqui chegou, fevereiro de 1965, tinham praticamente só nela o anjo bom que ia  até eles para curar-lhes as feridas, não somente as do corpo,  mas  também  as produzidas na alma pelo sentimento de segregação e isolamento.

Irmã Maria doava-se sem reservas à causa dos mais pobres e sofridos, não apenas para saciar-lhes a fome com as refeições que lhes oferecia ou as cestas básicas que conseguia para eles; ela procurava que crianças, jovens e adultos aprendessem algo, de acordo com suas aptidões, para obterem, pela capacidade própria, o seu sustento e se sentissem felizes com maior estima por si mesmos.

Sua obra iniciou-se sob a sombra de uma árvore, onde orientava, evangelizava e ensinava os mais humildes. Depois, graças à boa vontade do proprietário, alojou-se, num barracão, que mais tarde adquiriu, adaptou e ampliou para ser a sede da Escola Doméstica “Maria Mãe da Igreja”, lugar da partilha e do encontro de todos que a procuravam: ricos, remediados e, principalmente, os pobres.

Para comprar aquele barracão, não conseguiu ajuda do Poder Público, que, à época, não dispunha de recursos para auxiliá-la. Tinha prazo para entregar o imóvel; caso não conseguisse a quantia necessária, que não era pequena para quem nada possuía de seu. Não desanimou. Com muita confiança em Deus, saiu de porta em porta, diariamente, pedindo ajuda. Depois de muitas caminhadas, algumas sem êxito, ela finalmente conseguiu o valor necessário.

Ganhou um fusquinha, que ela mesma dirigia, para falar de Deus, presidir celebrações, distribuir a Eucaristia, confortar os doentes na cidade, nos bairros rurais e municípios vizinhos. Só parou quando não foi mais possível devido às limitações que a perda da saúde lhe impôs.

Irmã Maria deixa para nós a herança da fé comprometida, da caridade vivenciada, do carinho para com todos, do amor incondicional a Deus, da consagração de uma vida toda ao ideal cristão, da certeza da Ressurreição que já alcançou.

Irmã Maria, a Irmã Maria do Paraíso, será sempre uma referência inesquecível para todos os cristãos e pessoas de todas as crenças que a conheceram. E nós, que temos a graça do dom da fé, sabemos que, junto de Deus, na plenitude da verdadeira felicidade, Irmã Maria intercede por todos e por cada um, por suas irmãs ursulinas, pelos seus familiares e por nossa paróquia. Isso nos conforta e ameniza a dor da separação e da saudade!

Luiz Gonzaga da Rosa

Celebramos hoje

o Centenário de Nascimento da Irmã Maria O tempo. Nele nascemos, vivemos e por ele passamos. Deus está acima do tempo, é eterno. E nos deu o...